domingo, 25 de agosto de 2013
O Aqueduto das Águas Livres e os seus Chafarizes
O Aqueduto das Águas Livres foi construído ao longo dos séculos XVIII e XIX, nos reinados de Dom João V e Dom José I, com o propósito de fornecer água ao povo de Lisboa. Foi também durante essas décadas que foram sendo construídos os chafarizes que iriam receber as águas do aqueduto. Segundo o portal dos monumentos apenas restam 20 desses chafarizes na cidade de Lisboa. Os outros foram destruídos, pelo terramoto de 1755 ou porque os terrenos foram usados para outros fins. Decidi ir à procura desses chafarizes para os fotografar. Metade deles eu já tinha visto mas não sabia que todos tinham ligação ao aqueduto, a outra metade não creio ter visto antes deste projecto a que me propus. Toda a informação sobre os chafarizes que publiquei nos meus posts foram retiradas do portal dos monumentos (www.monumentos.pt).
sábado, 17 de agosto de 2013
O Chafariz da Esperança (Avenida D. Carlos I)
Chafariz urbano, projectado em 1752 por Carlos Mardel, integrado no ramal da Esperança. Segue a tipologia de chafariz de espaldar, disposto em dois níveis, ligados por escadas laterais. O Chafariz que apresenta elementos barrocos e pombalinos, mostrando o tipo de formação do responsável pela sua concepção, o engenheiro Carlos Mardel. Possui um alto teor cenográfico, o mais elaborado de todos os que foram construídos neste programa de abastecimento de água e que resistiu ao adossamento de um edifício. Apresenta dois níveis de tanques, cada um com o seu espaldar, o inferior simples, dividido por pilastras toscanas, rematado por platibanda com elementos esferóides, contrastando com a zona superior, mais exuberante, com o espaldar dividido por parastases, com um jogo de pilastras, algumas em silharia fendida e colunas, que definem painéis com almofadados do tipo pombalino, de perfis recortados e por um elemento transversal a todos os chafarizes do período, uma tabela, assente em falsas mísulas com pingentes. Ao centro, reentrante, surgem as armas reais, rodeadas por concheados, festões e encimadas por coroa fechada. Apesar do recurso à ordem toscana nos elementos estruturais, o engenheiro recorre à utilização de um friso dórico no remate, com os típicos triglifos e métopas, ornadas por rosetas. As bicas são em forma de carrancas, que emergem de elementos concheados, a única alusão à água em todos os elementos decorativos, estas vertem, no registo inferior para um tanque único, baixo e de perfil contracurvo, destinado aos animais, recebendo, os sobejos dos tanques superiores, estes em número de três e de planta quadrangular. Remata em pináculos na forma de vasos floridos, encimados por alcachofras.
O Chafariz do Largo do Rato
Chafariz urbano, projectado em 1752 por Carlos Mardel, integrado no ramal do Loreto. Segue a tipologia de chafariz de espaldar, com um forte carácter cénico barroco, disposto em dois níveis, ligados por escadas laterais, com duas bicas em forma de florão. Possui um teor cenográfico, apesar de diluído pelo alargamento do largo em que se insere, incrementado pela construção de um nicho miradouro sobre o muro a que se adossa a estrutura, semelhante aos lanternins que sobrepujam alguns troços do Aqueduto das Águas Livres, nomeadamente o de Campolide. Apresenta dois níveis de tanques, cada um com o seu espaldar, o inferior simples, dividido por pilastras toscanas, rematado por platibanda, contrastando com a zona superior, mais exuberante, com o espaldar dividido flanqueado por pilastras e aletas, tendo o pano marcado por várias almofadas que parecem sustentar a estrutura do remate, em friso e cornija, e pela tabela que, ao contrário de outros chafarizes contemporâneas, se apresenta contracurva, rematando em botão, encimado pelos típicos lacrimais. As bicas são projectadas, em forma de campânulas, ornadas por acantos, que vertem para dois tanques semicirculares, de perfil galbado e bordo boleado, chapeado a ferro e possui réguas para sustentação do vasilhame. O remate é clássico, com pequeno frontão triangular e urnas, a central mais elaborada, sustentada por plinto ornado por volutas. No lado direito da estrutura, adossada ao muro, fica a caixa de água, de planta quadrangular, com estrutura em cantaria e cobertura em três águas do mesmo material, flanqueada por pilastras toscanas e rasgada por porta de verga recta, emoldurada e encimada por bandeira, actualmente entaipada, tendo o vão protegido por porta metálica pintada de verde.
O chafariz segue, o esquema mardeliano com dois níveis de saída de água, o elevado para a população, com tanques individualizados, e o inferior para os animais, semelhante ao Chafariz da Esperança apesar de se apresentar menos exuberante.
Conheço este chafariz desde criança e ainda me lembro de subir as suas escadas, quando regressava da escola com a minha mãe. Por isso ele tem de ser especial para mim.
O Chafariz da Rua São Sebastião da Pedreira
Chafariz urbano, projectado em 1787 por Francisco António Cangalhas e Reinaldo Manuel dos Santos, que recebia água a partir do ramal de Santa Ana. Segue a tipologia de chafariz de espaldar, com duas bicas simples. Implantado numa pequena praça, do tipo caixa de água, de planta rectangular, disposto em dois níveis, ligados por escadas laterais, a do lado esquerdo construída no século XX, cada um deles com espaldar individualizado, o inferior mais simples, com panos almofadados dividido por pilastras toscanas onde surgia uma bica que vertia para tanque rectangular, de perfil galbado e bordo saliente. O nível superior tem amplo espaldar, com o chafariz, propriamente dito, ao centro, emoldurado, com a base mais larga e rematado por cornija contracurva, com bola no topo, e tendo as armas reais. Tem duas bicas em bolacha, que vertem para tanque rectangular, de perfil galbado e com réguas para apoio ao vasilhame. Está ladeado por respiradouros circulares e por duas portas de acesso à caixa de água.
Este é um dos meus chafarizes preferidos e que há pouco tempo descobri por acaso. Foi por causa dele que decidi fotografar os 20 chafarizes que ainda existem na cidade de Lisboa e que foram construídos para receber as águas do Aqueduto das Águas Livres.
O Chafariz das Águas Boas/Convalescênça (Estrada de Benfica)
Chafariz urbano, projectado em 1791, talvez por José Theresio Micheloti, que recebia água directamente a partir da conduta principal das Águas Livres. Segue a tipologia de chafariz de espaldar, com elementos decorativos neoclássicos. De construção tardia, reflecte decoração essencialmente tardo-barroca, destacando-se a cobertura decorada em escama de peixe, e espaldar de apainelados, definido por pilastras toscanas flanqueadas por silharia fendida sobrepostas de aletas, terminada em cornija e com cobertura em coruchéu tronco piramidal coroado por urna; o espaldar apresenta base galbada, ornada de drapeados envolvendo duas bicas circulares, sobreposta por duas cartelas recortadas, uma inscrita e outra contendo brasão nacional; tanque de planta rectangular de ângulos curvos e perfil galbado, com bordo achatado, tendo dois pilares e réguas metálicas para apoio de vasilhame. Aos panos laterais, adossam-se bancos de cantaria sobre consolas e surgem portas de verga recta e moldura simples, de acesso à parte posterior, onde se encontra a arca de água. O tanque lavadouro, adossado à fachada lateral esquerda da arca de água, possui planta rectangular servido por bica simples.
O Chafariz da Formosa (Rua do Século)
Chafariz urbano, projectado em 1760 por Carlos Mardel, integrando uma derivação do ramal do Loreto. Segue a tipologia de chafariz de espaldar, com um forte carácter cénico barroco. Chafariz implantado num amplo largo, criado propositadamente para o enquadrar, composto por muro em cantaria, parcialmente em perfil curvo, a que se adossam bancos de cantaria e onde se rasgam as portas de acesso à caixa de água, fronteiro a um dos palácio dos futuros Marqueses de Pombal, com o qual tem uma ligação subterrânea. O chafariz apresenta o espaldar totalmente ornado por painel almofadado e tabela, esta ornada por palmetas e rosetão. No remate, distinguem-se os fragmentos de frontão, que enquadram o remate em frontão sem retorno, encimados por pináculos, envolvidos por acantos clássicos, dispostos em taça, onde sobressaem outros elementos florais. Na base do apainelado, surgem três bicas na forma de mascarões, em bronze, com longas barbas e envolvidas por enrolamentos, as únicas que restam executadas neste material. O tanque, de forma trapezoidal, mas com os lados curvos, é tripartido interiormente por elementos de cantaria, individualizando três tanques, para onde vertem as três bicas.
Foi com tristeza que verifiquei que um chafariz tão bonito está tão maltratado e escondido. Muitos destes monumentos estão a precisar de restauro. E as árvores deviam ser podadas para os enquadrar em vez de os tapar.
O Chafariz da Rua do Monte Olivete
Chafariz urbano, construído em 1805 conforme projecto anterior de Carlos Mardel. Foi executado junto ao Arco de São Bento, onde se iniciava a Galeria da Esperança, e transferido para o actual local em 1838, com a demolição do Arco de São Bento. Segue a tipologia de chafariz de espaldar com estrutura contracurva. Implantado num largo ajardinado, do tipo caixa de água, de planta rectangular, com cobertura em canhão e face frontal lobulada, dividida por pilares toscanos, encimados por urnas. Ao centro, espaldar de perfil recortado, emoldurado e rematado pelas armas reais e cornija contracurva, com bica boleada que vertia para tanque rectangular, ocupando toda a largura do lóbulo, de perfil galbado e bordo boleado; os lóbulos laterais possuem bicas semelhantes, que vertem para tanques poligonais de bordos simples. Nas ilhargas, as portas de verga recta, de acesso à caixa de água.
O Chafariz de Benfica (Estrada de Benfica/Estrada das Garridas)
Chafariz urbano, projectado em 1779 por Francisco António Ferreira Cangalhas e Reinaldo Manuel dos Santos, que recebia água a partir do ramal principal das Águas Livres. Segue a tipologia espaldar com duas bicas em forma de florão. Implantado num largo, composto pelo chafariz do tipo caixa de água, situada na zona posterior, rodeado por dois panos laterais curvos. Chafariz de espaldar recto, definido por duplas pilastras acabadas em cunha e terminado em empena de lances encimada por cornija, decorado ao centro por ampla cartela recortada e brasão nacional no topo e, em baixo, com duas bicas circulares; tanque de planta rectangular, de ângulos recortados e perfil galbado, com bordo achatado, tendo dois pilares e réguas metálicas para apoio de vasilhame. Os panos laterais, em alvenaria rebocada e pintada, terminados em friso e com cobertura em meia cana, têm frontalmente embasamento com bancos adossados e dois portais de verga recta de acesso à casa de água, coberta por domo e rasgada posteriormente por janela emoldurada e gradeada.
O Chafariz das Laranjeiras (Estrada das Laranjeiras)
Chafariz urbano, projectado em 1819 por Francisco António de Ferreira Cangalhas e Honorato José Correia de Macedo e Sá, que recebia água a partir da conduta principal das Águas Livres. Segue a tipologia de chafariz de espaldar, com decoração barroca. Chafariz bastante elaborado, composto por espaldar parcialmente em silharia fendida, a que se adossam estípides barrocas, rematadas por urnas com fogaréus, num compromisso entre as gramáticas decorativas barroca e neoclássica, que se impunha, tendo o centro liso, seccionado por dois apainelados, ornados por enrolamentos e falsas mísulas com lacrimais. Este possui remate próprio, em friso e cornija, que se liga ao remate do espaldar através do escudo português, de onde pende uma cruz de Cristo e enrolamentos em cascata. As bicas situam-se na base das estípides, de perfis boleados e protegidas por cornijas angulares.
O Chafariz de Entrecampos (Rua de Entrecampos)
Chafariz urbano, construído em 1850, recebendo a água a partir do Chafariz de São Sebastião e do ramal de Santana. Segue a tipologia de chafariz em caixa de água, com amplo espaldar. De planta rectangular, rematado por cornija e platibanda plena, com face principal em espaldar recto, flanqueado por duplas pilastras toscanas, na base das quais surgem duas bicas em forma de florão, que vertem para tanque rectangular, de bordo simples e zona interior côncava, com bloco amplo de cantaria, possuindo réguas metálicas para apoio do vasilhame. No espaldar, surgem as armas municipais e inscrição alusiva à construção. As faces laterais possuem portas de verga recta, de acesso à caixa de água. No século XX, em 1993 foram colocados dois vasos sob as bicas e executado o revestimento das alas em azulejo, que invocam a ruralidade da zona durante o século XIX e a actividade dos aguadeiros.
Tantas vezes passei nesta rua e nunca me lembrei de espreitar por detrás do muro que circunda este simpático chafariz.
O Chafariz da Cotovia/Mãe de Água (Rua da Mãe de Água)
Chafariz urbano, construído no século XVIII, recebendo a água a partir do ramal do Loreto, tendo sido transferido, no século imediato, da Cotovia de Baixo (actual Praça da Alegria) para o local onde agora se encontra. Segue a tipologia de chafariz em caixa de água, com amplo espaldar implantado no topo de uma praça, de planta rectangular, com face principal muito simples, flanqueada por pilastras toscanas, possuindo duas janelas rectilíneas e, na base, bicas boleadas, que jorram para três tanques rectangulares, de bordos boleados, pouco profundos e os laterais com estrutura em cantaria para apoio do vasilhame; Possui cobertura piramidal, rematada por pináculo de bola. Os sobejos correm para um tanque inferior, rectangular e de bordos simples, flanqueado por duas escadas de cantaria, de acesso aos tanques principais.
Fiquei chocada por ver que este chafariz foi transformado em tasca. E acho que não deviam ter autorizado a colocação da faixa com o nome da dita na frente do chafariz.
O Chafariz do Desterro/Intendente (Rua da Palma)
Chafariz urbano, projectado em 1819 por Henrique Guilherme de Oliveira e Honorato José Correia de Macedo e Sá, que recebia água a partir do ramal de Santa Ana. Implantado num pequeno largo, do tipo caixa de água, de planta rectangular e corpo terminado em entablamento e platibanda plena de cantaria, almofadada, rematado por pináculos piramidais; o centro remata em espaldar curvo, com enrolamentos, sobrepujado por frontão interrompido por urna e esfera armilar com brasão nacional. Face principal em cantaria, formando espaldar tripartido, com pano central definido por estípides e os laterais por pilastras rusticadas; os panos apresentam vários painéis almofadados, com duas bicas circulares que vertem para tanques semicirculares, de bordos boleados, que centram um tanque rectangular. Cada uma das fachadas laterais é rasgada por porta entaipada e janela quadrada, moldurada e gradeada.
O Chafariz das Janelas Verdes (Rua das Janelas Verdes)
Chafariz urbano, projectado em 1774 por Reinaldo Manuel dos Santos, implantado no centro de uma ampla praça, construída em função dele, e constituindo uma prolongação do ramal das Necessidades, que se prolongava numa derivação sobre o Vale da Cova da Moura (actual Avenida Infante Santo). Chafariz urbano do tipo centralizado, composto por plataforma, a que se adossam dois tanques num nível inferior, interrompidos por escada que acede ao nível superior, que sustenta uma taça fechada e galbada, com bicas em forma de carrancas, que vertem para um tanque circular; os três tanques são de perfil galbado e bordo simples. O conjunto é rematado por um grupo escultórico composto por uma figura graciosa feminina, possivelmente Anfitrite ou Vénus, porque um golfinho a ladeia, vestida com vestes flutuantes arregaçando parte de um manto com a mão esquerda, enquanto a outra, ampara um Cupido que lhe oferece uma seta.
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